"Não vês que somos viajantes? E tu me perguntas: "O que é viajar?" Eu respondo com uma palavra; É avançar! Experimentas isto em ti. Que nunca te satisfaças com aquilo que és, para que sejais um dia aquilo que ainda não és. Avança sempre; não fiques parado no caminho." (Santo Agostinho)
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
No fluxo do coração
Prezado(a),
Encaminho texto muito interessante recebido de Irmã Leonida.
Um abraço,
Marly Trindade
Colaboradora
É possível desmanchar os nós causados
por histórias de família mal resolvidas e refazer laços. Apaziguados com a
nossa trajetória, podemos seguir plenos na direção dos nossos verdadeiros
propósitos
Texto: Raphaela de Campos Mello
Rogério cansou de abrir e fechar
negócios. Parece que em suas mãos os empreendimentos murcham. Já Matilde
coleciona uma sucessão de chefes intransigentes. Diariamente tenta atravessar
muralhas. Pedro, por sua vez, vive às turras com o pai. Enquanto o problema
crônico de Juliana é que, desde a adolescência, só se relaciona com parceiros
do tipo demolidores – especialistas em depreciá-la.
A vida de muita gente é marcada por situações que se repetem, cutucando
aquele mesmo ponto dolorido. Vira e mexe caímos na mesma cilada, como se uma
força desconhecida disparasse dentro de nós a tecla repeat. Do ponto de vista
da psicologia, caímos no mesmo buraco porque agimos em função de complexos
inconscientes. “A memória de vivências que trouxeram grande sofrimento para a
pessoa, que no momento não tinha condições de lidar com aquilo, é aparentemente
‘apagada’ da consciência, mas fica no arquivo inconsciente”, explica a
psicoterapeuta paulista Cristiane Marino. Sempre que algum evento externo tiver
a menor semelhança com aquela determinada memória, esse conteúdo transborda,
como para lembrar que continua vivo e atuante. A tendência é continuar assim até
cair a ficha de que é preciso interromper esse ciclo vicioso. E a melhor
maneira de desatar esses enroscos é iluminando as partes nebulosas de nós
mesmos através de algum trabalho terapêutico. Sob a perspectiva das
constelações familiares (nome derivado do inglês constellate, no sentido de
posicionar certos elementos numa dada configuração que torne a questão mais
clara aos olhos de todos), os nós ocultos que governam nossas vidas,
sedimentando padrões negativos, são chamados de emaranhamentos. E podem ser
desfeitos, um a um.
Segundo o criador do método, o ex-padre e terapeuta alemão Bert
Hellinger, que completa 90 anos em dezembro, esses emaranhamentos acontecem
quando transgredimos três leis fundamentais dos relacionamentos humanos
bagunçando a ordem do amor. São elas: precedência – sempre respeitar quem
chegou primeiro (pais são maiores que fi lhos, inclusive quando os progenitores
se tornam idosos. Nesse caso, os filhos permanecem menores, mas, ao mesmo
tempo, precisam atender as necessidades dos pais com zelo e humildade);
pertencimento – todos devem se sentir parte do sistema (ao invés de evitar o
convívio com algum parente porque destoam de nosso estilo de vida, é
importante incluí-lo); equilíbrio entre dar e receber (num casal, por exemplo, ambos
devem nutrir a relação com cuidados e valorização recíprocos). Encontrar
obstruções desses tipos no histórico familiar e trazê-las à consciência,
reposicionando algumas atitudes, é o objetivo do método terapêutico.
Para que o conteúdo inconsciente se revele, no entanto, é preciso que
uma teia de relacionamentos fique explícita. Na terapia das constelações
familiares funciona assim: um facilitador, em geral, terapeuta, conduz a
história de um cliente dentro de workshops onde se realizam várias constelações
(mecanismo que joga luz naquelas situações mais emaranhadas da vida de cada
um). Depois de contar o que a trouxe ali e de responder perguntas preliminares
sobre seu contexto familiar, a pessoa escolhe entre os presentes no grupo
aquele que irá representá-la, bem como seus entes queridos. E passa a observar
a encenação (a técnica se diferencia do psicodrama porque os participantes não
se manifestam livremente, apenas quando indagados pelo facilitador. Além disso,
a compreensão do pano de fundo das dinâmicas familiares se baseia
exclusivamente nas três leis do amor).
Os representantes respondem, como se fossem os personagens em questão, a
perguntas simples do facilitador. Exemplo: “Seus pais estão casados a muito
tempo?”. E são convidados a dizer, de tempos em tempos, como estão se sentindo
– se desejam rir, chorar, fazer algum movimento, se sentem dor em alguma parte
do corpo etc. O surpreendente é que, na maioria das vezes, falas, sentimentos e
gestos ali externados por pessoas completamente desconhecidas do constelante (a
pessoa que tem uma questão para resolver) coincidem com o jeito de ser dos
entes a quem se referem.
A posição dos representantes no espaço, bem como seus sentimentos e
impulsos, dão pistas preciosas. “É como se eu fosse juntando as peças de um
quebra-cabeça, guiada por hipóteses que vão se confirmando até chegar ao ponto
central do emaranhamento”, compara a paulista Maria Izabel Rodrigues,
psicoterapeuta, consultora organizacional e ministrante de cursos de formação e
workshops em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Destinos
enredados
De acordo com a teoria de Hellinger, o que acontece com um membro da
família inevitavelmente afeta os demais porque todos integram a mesma rede. A
dificuldade de um se reflete no outro, assim como potenciais e virtudes. Por
exemplo: uma pessoa fica estagnada em solidariedade a um parente que padeceu da
mesma forma no passado. “É como se disséssemos: ‘Por amor a você, ficarei
triste, doente ou fracassarei’. Como se quiséssemos assumir o fardo no lugar da
pessoa”, explica o médico Décio Fábio de Oliveira Júnior, cofundador do
Instituto Bert Hellinger Brasil Central (IBHBC) ao lado da esposa Wilma
Oliveira.
Isso ocorre porque temos a tendência a fazer pactos inconscientes com
nossos antepassados, mesmo os mais distantes, nos identificando com suas dores
e tentando, de alguma forma, expiá-las. Por isso, muitos repetem comportamentos
destrutivos. Também são recorrentes tentativas de compensações motivadas pela
culpa por alguma falta que acreditamos ter cometido. É o caso de um fi lho que
se sente responsável pela tristeza da mãe e que se cobra soluções que estão
muito além do seu alcance. Em ambos os casos, o problema de fundo é uma
percepção distorcida da realidade. Uma vez identificado o nó, é hora de
desconfundir as coisas, desmisturá-las. E de repactuar consigo mesmo algumas
atitudes.
O facilitador, então, pede aos representantes que repitam frases de
cura, que inspiram aceitação e gratidão por tudo o que se recebeu, do jeito que
foi possível. Costuma-se dizer: “Sinto muito por não ter dado o que você
precisava receber, mas isso não tem nada a ver com o meu amor por você, e sim
com as minhas dificuldades”. Ou ainda, “Eu sou a fi lha e você é o pai, eu sou
pequena e você é grande” (muitos são os pais e fi lhos que invertem papéis e
sofrem por isso. Quando esse desequilíbrio hierárquico se revela, o facilitador
pede que o constelante se sente num banco e fi que mais baixo do que seus
progenitores para poder incorporar física e simbolicamente seu lugar na família.).
“Após esses dizeres, a sensação de harmonia no sistema é intensa”, garante
Maria Izabel. Não raro, algo que a pessoa jamais cogitou como causa do seu nó,
emerge. A essa altura, o cliente é convidado a tomar o lugar do seu
representante a fi m de sentir o campo harmonizado e absorver a força dele
emanada (confira mais abaixo).
O
fenômeno tem explicação: Vo
Você deve estar se perguntando: “Como alguém que desconhece o constelante e sua família pode fazer gestos e dizer coisas como se fosse a pessoa representada?”. Ou então: “Como eventos vividos por antepassados longínquos podem influenciar nossa vida aqui e agora?”. Ambos os fenômenos se explicam com a ajuda de duas teorias. A primeira é a Teoria dos Campos Morfogenéticos, formulada pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de Ciência sem Dogma (ed. Cultrix). O pesquisador descobriu que há uma inteligência que precede a nossa existência física e que se manifesta de maneira sutil, com forte tendência a repetir aquilo que acontece com maior frequência. “Cada vez que ocorre a repetição de um fato, esse campo aumentaria a força e a probabilidade de determinado evento ocorrer nas gerações seguintes”, diz Maria Izabel. Uma segunda explicação parte da epigenética, ciência que estuda a ação do meio ambiente e dos pensamentos sobre a biologia. Referência nessa área, o biólogo norte-americano Bruce Lipton, autor de Biologia da Crença (ed. Butterfl y), descobriu a existência de nanorradares em nossas células. Segundo o estudioso, essa microantenas captam os conteúdos da esfera inconsciente, permitindo que dados aparentemente misteriosos alcancem a consciência.cê deve estar se perguntando: “Como alguém que
Você deve estar se perguntando: “Como alguém que desconhece o constelante e sua família pode fazer gestos e dizer coisas como se fosse a pessoa representada?”. Ou então: “Como eventos vividos por antepassados longínquos podem influenciar nossa vida aqui e agora?”. Ambos os fenômenos se explicam com a ajuda de duas teorias. A primeira é a Teoria dos Campos Morfogenéticos, formulada pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de Ciência sem Dogma (ed. Cultrix). O pesquisador descobriu que há uma inteligência que precede a nossa existência física e que se manifesta de maneira sutil, com forte tendência a repetir aquilo que acontece com maior frequência. “Cada vez que ocorre a repetição de um fato, esse campo aumentaria a força e a probabilidade de determinado evento ocorrer nas gerações seguintes”, diz Maria Izabel. Uma segunda explicação parte da epigenética, ciência que estuda a ação do meio ambiente e dos pensamentos sobre a biologia. Referência nessa área, o biólogo norte-americano Bruce Lipton, autor de Biologia da Crença (ed. Butterfl y), descobriu a existência de nanorradares em nossas células. Segundo o estudioso, essa microantenas captam os conteúdos da esfera inconsciente, permitindo que dados aparentemente misteriosos alcancem a consciência.cê deve estar se perguntando: “Como alguém que
Vidas
em linha
Quando desvelados e harmonizados, os fi os embaraçados das histórias dão
lugar a percepções mais lúcidas dos acontecimentos, que, por sua vez, são
acompanhadas de atitudes de respeito, aceitação, responsabilidade, reverência e
inclusão. “Não se trata de mágica. As constelações não solucionam
automaticamente todos os problemas. É preciso que a postura do cliente se
modifique a partir de uma reformulação que vem do coração”, enfatiza Décio. A
enfermeira paulista Ana Paula Mikulenas teve o privilégio de experimentar essa
possibilidade antes do falecimento do seu pai. Os dois se reaproximaram quando
ele adoeceu. “Meu pai não recebeu da mãe tudo o que gostaria e acabou me
colocando no lugar dela. Então eu queria resolver tudo por ele. Após a
constelação, reassumi a posição de fi lha, atendo-me a esse papel, sem
interferir diretamente nas demandas do meu pai. Assim esse padrão foi
gradativamente desaparecendo”, diz ela, que, desde aquele momento, passou a
viver de forma mais leve e consciente. “Ao compreender as dificuldades de
nossos antepassados, passamos a sentir compaixão por eles, e desse sentimento
surge a aceitação das coisas como elas são, o que nos apazigua e abre
caminhos”, resume o empresário José Roberto Freitas, de São Paulo. Depois de
seu fi lho descobrir que era desacreditado por ele porque ele também fora
desacreditado por seu pai e este por seu avô, sua vida pôde se refazer sobre
bases de compreensão entre as gerações.
Já o casal de administradores Renato e Renata Farias, também de São
Paulo, aceitou a indicação da médica homeopata da família, iniciada no método,
após sucessivas tentativas frustradas de gerar um fi lho. “Não tínhamos mais
opções. Então, chegamos de peito aberto ao procedimento”, conta Renato. Três
meses depois, bebê à vista. “Ficou claro que havia uma interrupção do fluxo do
amor entre meu sogro, um militar muito severo, filho de um homem com
dificuldade de demonstrar afeto, e meu marido. Na constelação, essas relações
puderam ser reparadas de alguma forma”, avalia a esposa. Segundo Maria Izabel,
que conduziu o processo, inconscientemente, Renato temia reviver a história
paterna com seu descendente, e a gravidez não se consumava.
Outras
veredas
Intensa e tocante, a experiência, na maioria das vezes, é bem assimilada
pelas pessoas. Mas há quem demande acompanhamento psicoterapêutico após a
constelação. A resposta à abordagem depende muito dos recursos internos e do
grau de autoconhecimento de cada um. O interessante é que quem participa
representando ou apenas assistindo também se beneficia. “A motivação primordial
é, em última análise, a mesma: a busca de elos perdidos ou rompidos que
precisam ser reatados”, observa o psicólogo e terapeuta Reno Bonzon, francês
radicado em Salvador, que recomenda a escolha de facilitadores sérios e
confiáveis, de preferência indicados por pessoas que vivenciaram o processo e
saíram satisfeitas.
Na observação de Hellinger, os insights e as transformações decorrentes
da constelação se prolongam por até três anos. Por isso não é indicado
trabalhar a mesma questão num curto intervalo de tempo. Também é possível
aplicar a ferramenta no atendimento individual. Nesse caso, utilizam-se bonecos
ou outros elementos de ancoragem.
Da família para outros sistemas
Por sua eficácia, a constelação, que surgiu tendo a família como foco,
acabou sendo transposta para outros grupos humanos, ganhando o nome de
constelações sistêmicas. Hoje esse saber beneficia empresas, escolas e até a
Justiça. Para se ter uma ideia, uma multinacional recorreu ao método para
sondar quais chefias estavam alinhadas aos novos valores instituídos e quais
ainda apresentavam certa resistência.
Os princípios cunhados por Hellinger também norteiam a relação entre
escola e pais. “Muitas questões relacionadas à aprendizagem e à desarmonia no
ambiente escolar estão ligadas a desordens das leis do amor na rotina da
escola”, afirma Hellen Vieira da Fonseca, consultora educacional especializada
em pedagogia sistêmica, de Taguatinga (DF).
Na Justiça, o maior exemplo vem do juiz Sami Storch, atuante em
Amargosa, a 235 km de Salvador. Segundo ele, que aplica a metodologia desde
2010, pais em litígio acabam encontrando saídas pacíficas após dinâmicas que
levam ao reconhecimento da importância de cada membro da família. Frases
reparadoras como: “Você me fez ser mãe/pai, e por isso sempre será importante
na minha vida”; “Foi difícil para mim, mas reconheço que você também teve
dificuldades ao longo do nosso relacionamento” abrem os canais da conciliação.
E o caudaloso rio da vida volta a correr.
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domingo, 6 de dezembro de 2015
COMO RENOVAR UM SAPATO VELHO
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