Festa 23 de abril
Devotos
no mundo inteiro comemoram no dia 23 de abril, o Dia de São Jorge, o
santo padroeiro da Inglaterra, de Portugal, da Catalunha, dos soldados,
dos escoteiros, dos corintianos e celebrado em canções populares de
Caetano Veloso, Jorge Ben Jor e Fernanda Abreu.
No oriente, São Jorge é venerado desde o século IV e recebeu o
honroso título de "Grande Mártir".
Guerreiro originário da Capadócia e militar do
Império Romano ao tempo do imperador Diocleciano, Jorge converteu-se ao
cristianismo e não agüentou assistir calado às perseguições ordenadas
pelo imperador. Foi morto na Palestina no dia 23 de abril de 303. Ele
teria sido vítima da perseguição de Diocleciano, sendo torturado e
decapitado em Nicomédia, tudo devido à sua fé cristã.
A imagem de todos conhecida, do cavaleiro que
luta contra o dragão, foi difundida na Idade Média. Está relacionada às
diversas lendas criadas a seu respeito e contada de várias maneiras em
suas muitas paixões. Iconograficamente, São Jorge é representado como um
jovem imberbe, de armadura, tanto em pé como em um cavalo branco com
uma cruz vermelha.
Com a reforma do calendário litúrgico, realizada pelo papa Paulo VI,
em maio de 1969, tornou-se opcional a observância do seu dia festivo.
Embora muitos ainda suspeitem da veracidade de sua história, a Igreja
Católica reconhece a autenticidade do culto ao santo.
O culto do santo chegou ao Brasil com os portugueses. Em 1387, Dom
João I já decretara a obrigatoriedade de sua imagem nas procissões de
Corpus Christi.
O Sport Clube Corinthians Paulista foi outra grande contribuição
para a popularização de São Jorge, primeiro no Estado de São Paulo e
depois no País, ao escolher o santo como seu padroeiro e protetor, em
1910.
A quantidade de milagres atribuídos a São Jorge é
imensa. Segundo a tradição, ele defende e favorece a todos os que a ele
recorrem com fé e devoção, vencendo batalhas e demandas, questões
complicadas, perseguições, injustiças, disputas e desentendimentos.
São Jorge é venerado desde o século IV
O culto a São Jorge vem do século 4 dC. O soldado foi martirizado na
Palestina no dia 23 de abril de 303, vítima da perseguição do imperador
Diocleciano. Foi torturado e teve a cabeça cortada, em Nicomédia,
devido a sua fé cristã.
Os restos mortais de São Jorge foram
transportados para Lídia (antiga Dióspolis), onde foi sepultado, e onde o
imperador cristão Constantino (que depois de vários imperadores
anti-cristãos converteu-se e a império à religião cristã) mandou erguer
suntuoso oratório aberto aos fiéis. Seu culto espalhou-se imediatamente
por todo o Oriente. No século V, já havia cinco igrejas em
Constantinopla dedicadas a São Jorge.
Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, foram erguidas
quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, na
Grécia, no Império Bizantino (a região oriental do Império Romano, que
tinha capital em Bizâncio, depois, Constantinopla) São Jorge era
inscrito entre os maiores Santos da Igreja Católica.
No Ocidente, na Idade Média, as Cruzadas colocaram São Jorge à
frente de suas milícias, como Patrono da Cavalaria. Na Itália, era
padroeiro da cidade de Gênova.
Na Alemanha, Frederico III dedicou a ele uma Ordem Militar. Na
França, São Gregório de Tours era conhecido por sua devoção a São Jorge;
o rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotide,
erigiu várias igrejas e conventos em sua honra.
A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel
mais relevante. O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São
Jorge a Ordem da Cavalaria da jarrateira, fundada por ele em 1330.
Por considera-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o inglês
Ricardo Coração de Leão, comandante de uma das primeiras Cruzadas,
constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam
conquistar a Terra Santa aos muçulmanos. No século 13, a Inglaterra
celebrava sua festa como dia santo e de guarda e, em 1348, criou a Ordem
dos Cavaleiros de São Jorge.
Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país,
imitando os gregos que também trazem a cruz de São Jorge na sua
bandeira.
Ainda durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) muitas medalhas
de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às
irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos da
guerra.
As artes, também, divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris,
no Museu do Louvre, há um quadro famoso de Rafael (1483-1520),
intitulado "São Jorge vencedor do Dragão". Na Itália, existem diversos
quadros célebres, como o de autoria de Donatello (1386-1466).
São Jorge e a morte do dragão
A imagem conhecida de todos, do cavaleiro que
luta contra o dragão, está relacionada às lendas criadas a partir da
Idade Média.
Há uma grande variedade de histórias relacionadas a São Jorge. O
relato e a imagem de todos conhecidos, do cavaleiro que luta contra o
dragão, começaram a ser difundidos na Idade Média . A imagem atual do
santo, sentado em um cavalo com uma lança que atravessa um dragão, está
relacionada às diversas lendas criadas a seu respeito, contadas de
várias maneiras em suas muitas paixões.
A versão mais corrente dá conta que um horrível dragão saía de vez
em quando das profundezas de um lago e atirava fogo contra os muros de
uma longínqua cidade do Oriente, trazendo morte com seu mortífero
hálito.
Para não destruir toda a cidade, o dragão exigia regularmente que
lhe entregassem jovens mulheres para serem devoradas. Um dia coube à
filha do Rei ser oferecida em comida ao monstro. O Monarca, que nada
pôde fazer para evitar esse horrível destino da tenra filhinha,
acompanhou-a com lágrimas até às margens do lago. A princesa parecia
irremediavelmente destinada a um fim atroz, quando de repente apareceu
um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia, montado em um cavalo branco,
São Jorge.
Destemidamente, enfrentou as perigosas labaredas de fogo que saíam
da boca do dragão e as venenosas nuvens de fumaça de enxofre que eram
expelidas pelas narinas do monstro. Após um duro combate, finalmente São
Jorge venceu o terrível dragão, com sua espada de ouro e sua lança de
aço. O misterioso cavaleiro assegurou ao povo que tinha vindo, em nome
de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam converter-se e ser
batizados.
Para alguns, o dragão (o demônio) simbolizaria a idolatria destruída
com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu, representaria a
província da qual ele extirpou as heresias.
A relação entre o santo e a lua viria de uma lenda antiga que acabou
virando crença para muitos. Diz a tradição que as manchas apresentadas
pela lua representam o milagroso santo e sua espada pronto para defender
aqueles que buscam sua ajuda.
Desde 1969, Igreja Católica tornou opcional a celebração a São Jorge
Embora muitos considerem que sua história não passe
de um mito e outros até mesmo acreditem que o santo tenha sido cassado
pela Igreja Católica, o martírio de São Jorge e o seu culto continuam
sendo reconhecidos pelo catolicismo.
A lenda do guerreiro que matou o dragão havia sido rejeitada no
século 5 por um concílio, mas persistiu e ganhou enorme popularidade no
tempo das Cruzadas.
"A imagem atual é fruto de uma lenda. Isso não quer dizer, no
entanto, que esse santo não existiu e que o martírio dele não foi
significativo", diz o monsenhor Arnaldo Beltrami, vigário episcopal de
comunicação da Arquidiocese de São Paulo.
No dia 9 de maio de 1969, a observância do Dia de São Jorge
tornou-se opcional, com a reforma do calendário litúrgico, realizada
pelo papa Paulo VI. A reforma retirou do calendário litúrgico as
comemorações dos santos dos quais não havia documentação histórica, mas
apenas relatos tradicionais. Daí ter-se falado, naquele tempo, em
"cassação de santos". Mas o fato da celebração do Dia de São Jorge
tornar-se opcional não significa o não reconhecimento do santo.
São Jorge é o padroeiro da Inglaterra
O "Santo Guerreiro" é também o padroeiro da
Inglaterra, de Portugal e da Catalunha (região da Espanha que reivindica
identidade nacional, onde se localiza Barcelona).
Não há consenso, porém, a respeito da maneira como teria se tornado
patrono da Inglaterra. Seu nome era conhecido na Inglaterra e na Irlanda
muito antes da conquista normanda, o que leva a crer que os soldados
que retornavam das Cruzadas influíram bastante na disseminação de sua
popularidade.
Acredita-se que o santo tenha sido escolhido o padroeiro do reino
quando o rei Eduardo III fundou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em
1348. Em 1415, a data de sua comemoração tornou-se um dos feriados mais
importantes do país.
Em 1970, a festa anual do santo nas igrejas católicas foi tornada
opcional, com a reforma do papa Paulo VI. Entretanto, na Inglaterra e em
outros lugares onde São Jorge é especialmente venerado, tal festa
guarda ainda toda a sua antiga solenidade.
Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país.
Segundo a interpretação extraída do IV volume do "Flos
Sanctorum"
Diocleciano, imperador de Roma, vendo que tudo lhe sucedia bem, determinou,
segundo seu parecer e engano diabólicos, sacrificar aos deuses, principalmente
a Apolo, sabedor das coisas que haviam de suceder. E consultando uma vez a
estátua sobre certa coisa que desejava saber, dizem que lhe respondeu o ídolo, que os justos que
estavam na terra, lhe eram impedimentos para dizer a verdade, e por causa deles
sucedia muitas vezes ser falso o que ele dizia que havia de ser. Enganado o
mísero Diocleciano com o seu erro, desejava saber que homens eram aqueles que
se chamavam justos na terra. Respondeu- lhes um sacerdote dos ídolos:
"Esses, imperador, são os cristãos".
Não demorou muito o tirano de saber isto, e moveu guerra e
perseguição contra os cristãos, já quietos das perseguições passadas. Logo sem
mais tardar começou a perseguir os inocentes e justos. Era muito para chorar,
ver os cárceres, feito para matadores, adúlteros e ladrões, cheios de Santos,
que confessavam a Cristo por Deus e Salvador; e ver que não se contentava o
tirano de atormentar os Santos com os tormentos antigos e costumados, mas, cada
dia, inventou novos e mais cruéis tormentos com os quais grande multidão de
cristãos eram torturados. Indo cada dia, de todas as partes, muitas acusações
contra os cristãos ao imperador, e principalmente, referindo-lhe os
procuradores do Oriente que os cristãos eram tantos que desprezavam seus
mandados, e que ou haviam de permitir que vivessem em sua lei, ou que estando
eles com grande exército, e assim os matassem todos, porque outra maneira não
seria fácil.
Ouvindo o perverso Diocleciano estas coisas, mandou chamar todos
os governadores e procuradores do Oriente e outras partes. Estando junto com os
senadores, manifestou a crueldade que tinha contra os cristãos, e mandou que
cada um dissesse seu parecer. Sendo alguns de contraria opinião, por último o
tirano afirmou que nenhuma coisa havia mais excelente que a veneração dos
ídolos; e assim lhes disse: "Todos que estimais minha amizade, ponde todas
as forças para lançar fora de todo o meu império a religião dos cristãos, e eu
vos favorecerei com todo o meu poder".
Louvaram todo este parecer do imperador, e determinaram que se
referissem ao povo três vezes em três dias.
Estava então no exército o maravilhoso cavaleiro de Cristo, Jorge,
o qual era natural de Capadócia, Ásia Menor (atual região da Turquia), de uma
família nobre e tradicional na cidade. De pai e mãe cristãos, que muito zelaram
pela sua instrução e educação, fora criado desde menino na sagrada religião
cristã. Sendo Jorge ainda moço, morreu o pai, oficial do exército imperial, em
uma batalha. Por ser ele bom cavaleiro, foi da Capadócia para a Palestina com
sua mãe que era natural daquela região, onde tinha fazenda. E como tivesse
idade para a guerra, foi instituído por capitão, e em pouco tempo sua
personalidade, sua coragem e seu porte foram notados pelo Imperador
Diocleciano, que o nomeou Conde. Ignorando ser aquele bravo um cristão, o
Imperador romano elevou-o ainda a Tribuno Militar e ao Conselho Militar. Neste
tempo faleceu sua mãe, e ele tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador,
sendo de idade de 23 anos. Vendo, Jorge, que urdia tanta crueldade contra os
cristãos, parecendo-lhe ser aquele tempo conveniente para alcançar a verdadeira
salvação, distribuiu com diligência toda a riqueza que tinha aos pobres. Depois
disto, no dia em que o conselho do senado havia de ser confirmado contra os
cristãos, Jorge, sem temor humano, armado só de temor de Deus, com alegre rosto
se pôs em pé no meio de toda a Assembléia e falou desta maneira:
"Oh! Imperador e nobres senadores, acostumados a fazer boas
leis, que desatino é este tão grande, que não cessais de acrescentar vossa ira
contra os cristãos, que tem a certa e verdadeira lei, para que a deixem e sigam
a seita que vós mesmos não sabeis se é verdadeira, porque os ídolos que
adorais, afirmo que não são deuses, havendo sido homens perdidos.
Não vos enganeis: sabeis que Cristo só é Deus e Senhor na glória
de Deus Padre, e por ele foram feitas todas as coisas, e pelo seu Espírito
Santo todas as coisas são regidas e conservadas. Pois esta é a verdade ele não
queirais perturbar os que a professam."
Ouvindo isto todos ficaram atônitos e espantados do valor e
atrevimento com que falou, e esperavam que o Imperador respondesse; mas ele
ficando perturbado e refreando a ira, fez sinal ao cônsul Magnêncio, que
respondesse a Jorge. O cônsul mandou chegar, Jorge, mas perto de si e disse:
"Dize-me, jovem, quem te deu tamanha ousadia para falar nesta Assembléia?
Respondeu Jorge: "A verdade". Disse o cônsul: "Que coisa e a
verdade?" Respondeu-lhe: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem
vós perseguis". Disse o cônsul "Dessa maneira és tu cristão?"
Respondeu-lhe: "Eu sou servo de meu Redentor Jesus Cristo,e Nele confiando
me pus no meio de vós "outros, para que dê testemunho da Verdade.
"Com estas palavras se turbaram todos. Então, Diocleciano pondo os olhos
em Jorge, o conheceu e lhe disse: "Sabendo eu há dias de tua nobreza, te
levantei ao mais alto grau da dignidade de minha corte, e agora ainda que
falaste tão alto, como sou muito afeiçoado à tua prudência e fortaleza, te
aconselho, como pai amoroso, que não deixes o proveito e honra da tropa, nem
queiras perder a flor da tua idade com torturas antes, sacrifica aos deuses e
receberá de mim maiores prêmios e recompensas. "Jorge lhe respondeu:
Oxalá, oh imperador, que conhecendo tu por mim. O verdadeiro Deus, lhe
oferecesse o sacrifício de louvor, que ele pede e deseja; e eu ficarei por
fiador de que ele Senhor de outro mais excelente império do que tens, que é o
reino que dura para sempre; porque este que agora possuís, cedo se há de
acabar. E sabe de certo que nenhum desses bens que me prometes, poderão de
alguma maneira afastar-me de meu Deus, nem algum gênero de tormento que
inventares poderá tirar de mim o amor de meu Redentor nem causar em mim temor
algum da morte temporal". Ouvindo isto o imperador, cheio de ira mandou
aos soldados que o deitassem fora da Assembléia com lançadas, e o metessem no
cárcere. Fizeram logo os soldados o que lhes fora mandado, mas, a ponta da lança
com que lhe tocou no corpo um soldado, dobrou como se fora de chumbo, e Jorge
não cessava de dizer divinos louvores. Sendo ele posto no cárcere,
estenderam-no em terra e puseram-lhe grilhões nos pés e sobre o seu peito uma
grande pedra. Tudo isso lhes mandou o tirano fazer; mas sofrendo o tormento com
muita paciência, não cessou até o dia seguinte de dar graças a Deus.
Sendo manhã, o imperador mandou-o vir perante si, e estando Jorge
muito atormentado com o peso da pedra, disse-lhe o imperador: ."Tornaste
já sobre ti, Jorge?". Respondeu o jovem: "Por tão fraco me tens
imperador, que cuidas que um tormento de meninos e tão pequeno, havia de me
afastar de Cristo e negar a verdade, primeiro cansarás tu em me atormentar, do
que eu sendo atormentado". Disse Diocleciano: "Eu te darei tantos
tormentos que te acabarão a vida". Mandou logo trazer uma roda grande e
cheia de navalhas e meter o jovem nela para ser despedaçado. Estava esta roda
pendurada, e por baixo tinha umas tábuas nas quais estavam pregadas muitas
pontas agudas como canivetes de sapateiro. Puseram-no entre as tábuas e a roda,
atado com loros e cordas, tão apertado que dentro da carne se escondiam as
cordas; e voltando a roda, todo o corpo lhe ficava cruelmente ferido. Este
espantoso gênero de tormento sofreu Jorge com grande ânimo; e fazia oração ao
Senhor, e depois ficou como adormecido por um bom espaço de tempo.
Vendo isto, Diocleciano, e cuidando que já estava morto, ficou
alegre e começou a louvar os seus deuses, e dizia: "Onde está o teu Deus,
Jorge? Por que não te livrou deste tormento?"
Mandou então tirá-lo do tormento. e partiu para ir sacrificar a
Apolo; mas logo apareceu uma nuvem no ar, e viu um grande trovão, e soou uma
voz que muitos ouviram, a qual disse: "Não temas, Jorge, porque estou
contigo". Daí a pouco viu-se grande serenidade, e foi visto um homem
vestido de branco estar em cima da roda, muito resplandecente no rosto, e deu a
mão ao Santo Mártir, e abraçando-o mandou desatá-lo; e logo desapareceu aquele
varão de tanta claridade e ficou Jorge solto, livre e são, dando graças a Deus.
Os soldados que o guardavam ficaram fora de si, espantados de tal
visão, e deram logo novas do que se passava ao imperador que se achava no
templo. Vendo o imperador a Jorge, dizia que não podia ser aquele o mesmo
Jorge, mas outro que se parecesse com ele.
Dois corregedores, um chamado Anatólio, outro Petroleu, sendo
antes criados na fé de Cristo, vendo o milagre cobraram ousadia, e em alta voz
disseram: "Um só é Deus, grande e verdadeiro, que é o Deus dos
cristãos", aos quais mandou logo o imperador levar para fora da cidade e
cortar-lhe as cabeças, Muitos se converteram, então, ao Senhor tendo fé dentro
de si, mas não ousavam descobrir-se com temor da morte e tormentas. Também a
imperatriz Alexandra, conhecendo a verdade e começando a querer falar
livremente, um cônsul a retirou, e antes que o imperador entendesse a causa, a
deixou no seu palácio. Não sofrendo Diocleciano com estas coisas mandou meter
Jorge em uma fornalha de cal virgem, três dias, e mandou vigiar, que lhe não
viesse de nenhuma parte ajuda alguma. Sendo levado a esse tormento preso, ia
fazendo oração a Deus em alta voz, dizendo: "Senhor meu, ponde os olhos de
vossa misericórdia em mim, e livrai-me das ciladas do inimigo, e concedei-me
que até o fim confesse o vosso santo nome".
"Não digam os meus inimigos por minhas maldades: Onde está o
teu Deus? Mandai, Senhor, o vosso Anjo em minha guarda, assim como
transformaste a fornalha de Babilônia em orvalho, e os moços que estavam
dentro, conservaste sem lhes fazer mal o fogo".
Dito isto, e fazendo o Sinal da Cruz em todo o corpo, com grande
alegria entrou no forno de cal. Os ministros e soldados que foram mandados pra
executores destes tormentos, depois de o deixarem no forno se retiraram. Ao
terceiro dia, chamou o imperador alguns soldados e disse: "Não fique na
memória aquele mal-aventurado Jorge, para que não haja quem honre as suas
relíquias; portanto ide, e se achardes algum osso subterrai-o, que não apareça
mais. "Foram os soldados, seguindo-se grande multidão de povo para ver o
que se passava. Descobrindo o cal acharam dentro Jorge com o rosto
resplandecente; o qual, levantadas as mãos para o céu, dava louvores a Deus por
todos os seus beneficies; e saindo do forno sem algum mal que lhe fizesse a
cal, todos se espantaram de tão maravilhosa causa, e Louvaram o Deus de Jorge.
Chegou a nova deste milagre a Diocleciano, este mandou chamar a
Jorge e muito espantado lhe disse: "Jorge, com que artes fazes estas
maravilhas?" Respondeu-lhe: "Oh! cego imperador, que chamas artes as
maravilhas de Senhor, por isso choro tua cegueira".
Disse Diocleciano: "Agora veremos Jorge, se diante dos nossos
olhos fazes milagres. Mandou então o tirano trazer umas chinelas de ferro
ardente, e mandou-lhas meter nos pés, e desta maneira, o fez levar ao cárcere.
e indo açoitando e zombando dele, diziam: "Oh! Como Jorge corre,
ligeiramente", mas o mártir sendo tão cruelmente levado e açoitado, ia
muito alegre dizendo a si mesmo: "Corre Jorge, para que alcances o prêmio".
Depois orando, dizia: "Senhor, olhai o meu trabalho e ouvi os gemidos de
vosso preso, porque os meus inimigos se multiplicaram e me tiveram grande ódio
pelo vosso nome; mas vós Senhor, me sarai, porque todos os meus ossos estão
atormentados, e dai-me paciência até o fim, para que não diga o meu inimigo:
"Prevaleci contra ele". "Desta maneira passou Jorge até chegar
ao cárcere, indo muito atormentado das chagas que lhe fizeram nos pés os pregos
ardentes que as chinelas de ferro tinham para cima. Passando o Santo todo
aquele dia e noite em dar graças a Deus, no dia seguinte foi levado diante do
imperador, o qual estava sentado junto ao teatro público, estando presente todo
o senado.
Vendo o imperador Jorge andar tão bem e sem sacrifícios como se
não recebera algum mal, disse-lhe. "Jorge, as chinelas foram para ti
refrigério?". Respondeu "Jorge: "Sim, foram". Disse o
imperador: "Deixa já a tua ousadia e arte mágica, vem para nós e oferece
sacrifício aos deuses, pois de outra maneira serás atormentado com diversos
tormentos".
Respondeu Jorge: "Quão ignorante te mostras, pois chamas
feitiços ao poder do meu Deus e por outra parte dás honras, aos enganos dos
diabos que adoras".
O tirano mandou aos que estavam presentes que o ferissem no rosto
, dizendo: "Assim te ensinaram a dizer injúrias aos imperadores? E depois
disto mandou que o açoitassem com nervos de búfalo, até que fosse desfeito seu
corpo. Sendo Jorge tão sem piedade atormentado, e não mudando a alegria do
rosto, disse o tirano "Certamente não chamarei a isto obras de virtude,
mas arte mágica". Disse então Magnencio ao imperador: "Senhor, mandai
chamar um homem que aqui mora, grande mágico e com ele será vencido
Jorge". Foi, logo, chamado o feiticeiro e lhe disse Diocleciano: "Todos
os que estamos presentes sabemos o que este maldito Jorge faz; mas porque arte
o faz, tu no-lo declararás. E rogo-te que destruas seus feitiços e o faças
obedecer-nos." Prometeu então Athanasio, (o mágico) que no dia seguinte
faria tudo que lhe ordenava; e mandou o imperador guardar Jorge no cárcere, no
qual ele invocava o nome do Senhor, dizendo: "Seja Senhor, a vossa
misericórdia sobre mim, e encaminhai meus passos na confissão de vosso Santo
nome, e acabai minha vida na vossa fé, para que em tudo seja o vosso louvado".
No dia seguinte, estando Diocleciano no teatro, mandou vir o
mágico, o qual veio muito vaidoso e mostrando ao imperador umas bebidas e
disse: "Seja trazido aqui, Jorge e vereis a força destas bebidas; pois se
quereis que obedeça dêem-lhe de beber o que trago neste vaso. E se quereis que
morra dêem-lhe deste outro vaso".
Mandou o imperador vir perante si Jorge, e disse- lhe:
"Agora, Jorge, serão acabadas as tuas artes mágicas", e mandou que
por força bebesse um daqueles vasos; mas o Santo sem algum temor o bebeu sem
lhe fazer mal; e finalmente esteve muito constante na fé e ficou a arte do
diabo desprezada.
O imperador vendo isto, mandou-lhe dar a outra bebida quê o
constrangessem a bebê-la; mas o bem-aventurado Jorge não esperando que o
forçassem, pela divina virtude bebeu a outra sem lhe fazer mal algum.
Ficou o imperador pasmado e espantado e todo o senado e mesmo o
feiticeiro de tamanha maravilha; e disse o imperador a Jorge mártir: "Até
quando nos há de pôr em espanto com isto que fazes? Por que não acabas de
confessar a verdade? Como escapas tão facilmente do veneno que te dão a beber e
como desprezas os tormentos?" Respondeu Jorge: "Não cuides,
imperador, que somos livres por alguma humana providência, más só pelo poder e
virtude de Cristo; e confiados nele, não fazemos caso dos tormentos seguindo
sua "doutrina". Disse então Diocleciano: "Que doutrina é a de
teu Cristo? Respondeu Jorge: "Conhecendo o Senhor, a diligência que vós
outros haveis de ter em perseguir os Santos, não temais aqueles que matam o
corpo, nem façais caso das coisas transitórias; sabeis de certo que um cabelo
de vossa cabeça não perecerá; e ainda que bebas veneno não vos fará mal."
Finalmente prometeu-nos dizendo: "Aquele que crer em mim fará as obras que
eu faço". "Que obras são essas? "Dar vistas aos cegos, curar
leprosos fazer andar os mancos, abrir ouvidos aos surdos, expelir os demônios
dos corpos, ressuscitar os mortos e outras coisas semelhantes a estas".
Virou-se então o imperador para Athanazio, o mágico e lhe disse:
"Que dizes tu a estas coisas?" Respondeu Athanazio: "Admiro-me
de ver como este jovem despreze a vossa mansidão com suas mentiras; más já que
ele diz, que os que esperam no seu Deus farão as obras que ele faz, ali naquele
sepulcro que está diante de nós, está um defunto, que eu conheci, e pouco tempo
há que ali o sepultaram; se Jorge o ressuscitar, sem nenhuma dúvida adoremos o
seu Deus". Então o imperador fez sinal a Jorge que o experimentasse.
Pediu então Magnêncio ao imperador que mandasse soltar a Jorge, e
depois de solto lhe disse: "Agora, Jorge mostra-nos as maravilhas do teu
Deus; e se o fizeres, todos creremos nele. Respondeu Jorge: "Nobre Cônsul,
Deus que todas as coisas criou do nada, poderoso é para, por mim, ressuscitar
este defunto; mas como vossas almas estão cegas, não podereis entender a
verdade; porém, por amor do povo presente, isto que pedis tentando-me, Deus o
obrará por mim, para que o não atribuas a arte mágica. Pois este mágico que
aqui o trouxeste, confessa que nem por encanto, nem pelo poder dos vossos
deuses, pode um morto ser ressuscitado, em diante de todos vós chamo a meu
Deus"; e dizendo isto, pôs os joelhos em terra, e quase chorando orava a
Deus, e levantando-se disse em alta voz: "Oh! eterno Deus de misericórdia,
Deus de todas as virtudes, e que todas as coisas pode, que não frustreis a
esperança dos que em vós confiam. Senhor Jesus Cristo, ouvi este mísero servo
vosso, nesta hora, assim, como ouvistes, Santos Apóstolos em todo o lugar,
dando-lhes poder para fazeres milagres e sinais. Dai, Senhor, a esta geração má
o sinal que pode, e ressuscitai este morto para glória vossa, e do Padre e do
Espírito Santo. Rogo-vos, Senhor, que mostreis a estes circunstantes serdes só
vós, Deus Altíssimo sobre toda a terra e que eles conheçam serdes vós Senhor
poderoso, a cuja vontade todas as coisas estão sujeitas e que vossa será a
glória para todo sempre. Amém". Dizendo Amém, se ouviu um grande som, de
maneira que tremeram todos.
Logo se levantou grande alvoroço e tumulto no povo e muitos deles
louvaram a Cristo, dizendo que era o verdadeiro Deus.
O imperador e os seus familiares, espantados e cheios de
incredulidade, diziam que Jorge era um grande mágico, e que metera algum
espírito naquele corpo para enganar os circunstantes; mas depois que
verdadeiramente viram e conheceram ser homem o que ressurgira, e que chamava a
Jesus Cristo, indo correndo para Jorge, não sabiam mais o que dizer. Athanazio,
encantado, vendo esta maravilha, lançou-se aos pés de Jorge, dizendo em alta
voz que Cristo era Deus todo poderoso, e rogava ao Santo, que lhe alcançasse o
perdão de seus pecados.
Daí a pouco fez o imperador calar o povo, e disse- lhe:
"Veremos o engano e malícia destes feiticeiros? Este Athanazio, semelhante
a Jorge, ambos de uma mesma arte, favorecem um ao outro; e as bebidas
venenosas, não lha deu, mas deu-lhe outra cheia de encantamento para nos
enganar". Acabando de dizer isto, mandou logo degolar Athanazio com o que
fora ressuscitado, dizendo o pregão que era por confessarem a Cristo por Deus,
e a Jorge mandou meter no cárcere, onde o Santo dava graças a Nosso Senhor
pelas grandes maravilhas que por ele fazia.
E estando ali no cárcere, vinham a ele muitos dos que tinham
recebido a fé pelas maravilhas que foram feitas. e desrespeitando os guardas,
se lançavam aos pés dele, entre os quais alguns enfermos que, em virtude do
sinal e do nome do Cristo, foram por ele curados. Andando um pobre homem
lavrando a sua terra, um dos bois com que lavrava caiu em terra e morreu; e
ouvindo a fama de Jorge foi correndo ao cárcere, chorando a perda do boi.
Disse-lhe Jorge: "Vai alegre, porque Cristo, meu Senhor, tornou teu boi à
vida". Crendo ele em suas palavras, foi correndo e achou o boi vivo como
Jorge dissera, e logo sem mais se deter, tornou este homem, chamado Glycero, a
Jorge, o ia pela cidade dizendo em vozes: "Muito grande é o Deus dos
Cristãos". Uns cavalheiros o prenderam e mandaram dizer ao imperador o que
se passara; o tirano cheio de ira o mandou degolar fora da cidade.
E Glycero, muito alegre, como se fosse a algum convite, ia
correndo diante dos soldados que o levaram ao martírio, e com alta voz chamava
ao Senhor, pedindo- lhe que recebesse o seu martírio. E desta maneira acabou a
vida. Neste tempo, alguns dos senadores foram acusar Jorge ao imperador,
dizendo que estando no cárcere abalava o povo e fazia a muitos receber a fé de
Cristo.
Ouvindo isto, o imperador tomou conselho com Magnêncio, e no dia
seguinte mandou aparelhar sua cadeia junto ao templo de Apolo, para que ali
publicamente, fosse Jorge, perguntado. Naquela noite, orando Jorge no cárcere e
adormecendo, viu em sonho o Senhor que por sua mão o levantava e abraçava, e
lhe punha uma coroa na cabeça, e dizia: "Não temas, mas tem forte o
coração, pois já és digno e mereces reinar comigo, não tardes em vir gozar dos
bens eternos, que te estão preparados". Acordando e dando graças a Deus
com muita alegria, chamou o carcereiro e disse-lhe: "Rogo-vos irmão, que
deixeis entrar neste cárcere meu empregado, porque me importa falar com
ele". Concedendo o carcereiro o seu pedido, entrou o moço que estava muito
triste pelos tormentos que passava o seu senhor. Levantou-o da terra onde se
lançara, chorando, consolou-o, esforçou-o e disse-lhe: "Filho, muito cedo
me chamara meu Senhor para si, mas depois que passar desta vida, tomarás este
mísero corpo e leva-lo-ás a Palestina, à casa onde morávamos, e Deus será guia
de teu caminho, e não apartes nunca da fé de Cristo". E prometendo-lhe o
criado com muitas lágrimas, que assim o faria, abraçou-o o Santo e mandou-lhe
que fosse dali em paz.
No dia seguinte, assentado Diocleciano em sua cadeira imperial,
mandou vir Jorge perante si, e começou com muita mansidão e falar-lhe desta
maneira: "Dize-me, Jorge, não te parece que sou muito humano e benigno
para ti? Testemunhas me sejam todos os deuses como me pesa em extremo de tua
mocidade, assim em flor, da tua gentileza e formosura, como também pelo assento
de tua descrição e constância de ânimo. E desejo muito, se te apartares da fé
cristã, que mores juntamente comigo, e seja a segunda pessoa do meu império.
Agora me responde o que te parece."
Respondeu Jorge: "Razão era, imperador, se tamanho amor e
afeição me tinhas que me não perseguisse, como o inimigo principal, e não
executarás em mim tantos tormentos por satisfazer com tua ira".
Ouviu o imperador isto com bom gosto e disse a Jorge: "Se me
quiseres obedecer como pai, eu te compensarei os tormentos que te fiz dar, com
muitas grandes honras que te farei".
Disse então Jorge: "Se queres, imperador, vamos ao templo a
ver esses deuses que vós outros honrais". Levantou-se logo o imperador com
grande alegria, e mandou declarar público que o Senado e todo o povo viesse ao
templo. Indo o povo para o templo, louvava ao imperador pela vitória que,
cuidavam, alcançara Jorge. Entrados todos no templo, e aparelhado o sacrifício,
tinham todos postos os olhos no mártir esperando que sem nenhuma dúvida havia
de sacrificar.
Jorge chegou à estátua de Apolo, e estendendo a mão, disse:
"Por que coisa quereis tu que te ofereça sacrifícios como a Deus?"
E logo faz o sinal da cruz. O demônio, que dentro do ídolo estava,
bradava dizendo: "Não sou Deus, nem algum semelhante a mim é o Deus a quem
pregas. Nós, de Anjos fomos feitos diabos, e enganamos os homens pela inveja
que lhes temos. Perguntou-lhe então Jorge: "Pois como ousais vós outros
estar aqui neste lugar estando eu presente, que adoro o verdadeiro Deus?"
Dizendo isto se sentiu um ruído, como choro que saía das estátuas, e caíram
todos os ídolos em terra e fizeram-se em pedaços.
Levantaram-se então alguns dos do povo acesos em ira e fúria,
instigando os sacerdotes, tomarem Jorge, e açoitando-o, bradavam dizendo.
"Mate este feiticeiro, oh! Imperador, mate este mágico". E correndo
estas novas, logo pela cidade, a imperatriz Alexandra, não podendo mais
encobrir a fé de Cristo que tinha, veio com grande pressa, e vendo o alvoroço
do povo e Jorge preso, e longe dela, e que pela muita gente não podia chegar a
ele, bradou em alta voz e dizia: "Deus de Jorge, ajudai-me". Pacificando
o alvoroço do povo mandou Diocleciano trazer diante de si Jorge, e com grande
ira lhe disse: "Mau homem, desta maneira agradeces a bondade com que te
trato? "Deste modo costuma sacrificar aos deuses? "Respondeu Jorge:
"Sem dúvida, imperador, que deste modo, aprendi eu a sacrificar aos teus
deuses: daqui em diante tem vergonha de atribuir a saúde que tens a tais
deuses, os quais não podem sofrer a presença dos servos de Cristo".
Dizendo estas palavras o Santo, chegou a imperatriz e disse ao
imperador o que tinha dito d'antes, e lançou-se aos pés de Jorge. Vendo isto o
imperador, disse: "Que novidade é esta, Alexandra, que te afeiçoou a este
mágico encantador? A bem-aventurada imperatriz não lhe quis responder, tendo-o
por indigno de sua resposta. O cruel imperador, cheio de ira e furor pela
mudança da imperatriz, deu contra Jorge e contra ela a sentença seguinte: Mando
degolar a esse péssimo Jorge, o qual , assim aos deuses como a mim injuriou
gravemente; e o mesmo fez Alexandra, imperatriz, enganada com seus feitiços.
Tomaram logo os soldados Jorge e o levaram preso fora da cidade,
juntamente com a nobilíssima imperatriz, que orando a Deus como alegre ânimo,
caminhava para o lugar do martírio; e indo assim, chegando a um certo lugar,
pediu que a deixassem assentar um pouco, e assentando sobre o seu vestido,
inclinou a cabeça sobre os joelhos e assim deu o espírito a Deus.
Por essa razão a bem-aventurado mártir, Jorge louvando e dando
graças a Deus caminhava com grande alegria. Chegando ao lugar determinado fez
oração ao SENHOR, dizendo:
"Bendito sois, Senhor Deus meu, porque não permitistes que eu
fosse despedaçado pelos dentes daqueles que me queriam e buscavam, nem
consentiste que meus inimigos ficassem alegres com a vitória: porque livraste a
minha alma, como pássaro do laço dos caçadores. Pois agora, Senhor, também me
ouvi, sede comigo nesta última hora, e livrai a minha alma da maldade dos
malignos espíritos; e todos os males que por ignorância em mim executam, lhes
perdoai. Recebei, Senhor, a minha alma com aqueles que desde o princípio do
mundo vos serviram, e esquecei-vos de todos os meus pecados, que eu
voluntariamente, ou por ignorância cometi".
"Lembrai-vos, Senhor, dos que recorrem ao vosso Santo nome,
porque vós sois Santo, Bendito e Glorioso para sempre, Amém".
Acabando de dizer isto, estendeu o pescoço com alegria e foi
degolado, e entregou sua alma nas mãos dos anjos a 23 de Abril, fazendo
excelente confissão de fé pura e sã pelo ano 303.
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